terça-feira, 8 de maio de 2012

Mesas do Castelinho em Conferência 10 de Maio no Museu do Carmo

Conferência de Susana Estrela 
|10 de Maio - 18.00h. | 
Associação dos Arqueólogos Portugueses - Museu do Carmo

MESAS DO CASTELINHO (ALMODÔVAR)
UMA ALDEIA AMURALHADA NA PAISAGEM DA IDADE DO FERRO DO BAIXO ALENTEJO


Em finais do século V a.C. é fundado, numa paisagem marcadamente interior e de fronteira, o povoado de Mesas do Castelinho (Almodôvar, Baixo Alentejo). Delimitado por segmentos justapostos de muralhas, o local vem, aparentemente, romper com as antigas formas de povoamento conhecidas para a região baixo-alentejana.

Os dados saídos ao longo de mais de duas dezenas de anos de um projecto de investigação e analisados no âmbito de um trabalho académico de mestrado vêm demonstrar a existência de um aglomerado rural que pode ser interpretado como uma aldeia, com um desenho urbano que se define, mais do que apenas pelas suas muralhas, pelos espaços interiores que reflectem as actividades proporcionadas pela paisagem envolvente: exploração pecuária, agricultura, caça.

Esta ruralidade está patente no acervo material, com consideráveis quantidades de cerâmica produzida local ou regionalmente e, com muito menor expressão, através da presença de artigos importados desde paragens litorais.

No primeiro lote incluem-se os recipientes manuais com decorações incisas, que caracterizam o tradicional e conservador conjunto material da Idade do Ferro da região. Dele fazem parte, porém, os inovadores recipientes com matrizes impressas, uma das marcas definidoras da designada II Idade do Ferro.

A estes materiais cerâmicos associam-se artigos de origem mediterrânea, como a cerâmica ática, as contas de vidro, a cerâmica de “tipo Kouass”, as ânforas produzidas na baía gaditana, a cerâmica pintada em bandas, entre outros. 


O sítio, dissimulado na paisagem e implantado numa área com fracas aptidões naturais, na fronteira entre a serra do Caldeirão e a peneplanície alentejana, localizado junto a uma rota de pessoas e bens, revelará a sua importância na partilha dos artigos produzidos local ou regionalmente e, neste particular, das cerâmicas com matrizes impressas. Sempre muito diminutos no registo arqueológico de Mesas do Castelinho, os artigos importados demonstram a ausência de rupturas nos circuitos da sua distribuição pelo interior.

Estes sinais de continuidade prolongam-se até ao século II a.C., quando o registo material revela dos mais precoces contactos com o mundo romano conhecidos até ao momento para a região, com uma população que mantém as suas vivências intrinsecamente rurais, num povoado que já não utiliza a fortificação como perímetro e que constrói novos espaços habitacionais e de trabalho sobre as suas muralhas.
 Susana Estrela